Torno foi escrito ao longo de alguns anos. Nele, desvela-se um caminho em espiral que enfim sai da gaveta. Poema a poema. Convido você, leitor, a abrir comigo esses cadernos, sempre incompletos. Os anos de escrita se farão semanas de leitura, condensados no tempo. Coincidência ou não, o ciclo começa hoje, oito de março.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Arvorescendo

Lua vai, lua vem, e depois de longa pausa, tornamos por outro caminho. O poema de hoje é tradução minha de um poema de Silvina Ocampo. 


Arvorescendo
(Poema de Silvina Ocampo; tradução de Ana Araújo)

Gostaríamos de saber que está pensando
esta menina imóvel, trepada na corticeira.
Estará arvorescendo?
Crescerão folhas em seu cabelo,
ramas nos braços,
troncos nas pernas.
Está só, tão só que se parece
a uma boneca vestida por ela mesma.
Não a incomodam os olhares
da gente que passa.
Sua vida inteira é este momento.
Sua voz caiu na água,
seu olhar acompanhou-a,
imóvel, no lago eriçado.
Se volto a este lugar e não a encontro
trepada na corticeira como hoje,
pensarei que esta árvore não é a mesma
e que a menina não foi uma aparição.

Foto: Ana Araújo